Havia lido a respeito deste livro à época
de seu lançamento e, já naquela ocasião, fiquei interessado. Depois disso não
voltei a pensar nele até que, semana passada, um amigo o trouxe para mim, com a
garantia de que eu não conseguiria largá-lo. Pura verdade.
Em sua capa, logo abaixo do título,
aparece a frase: "A mais extraordinária aventura de todos os tempos".
Na verdade, não chega a ser uma chamada original. O problema é que a gente vê
chamadas deste tipo a toda hora, frequentemente aplicadas para atrair a atenção
sobre obras que nem de longe cumprem sua promessa. Não é o caso desta aventura,
que se não foi a mais extraordinária, está entre as maiores de todas.
Resolvi buscar no dicionário pelo
verbete aventura, e o que está ali se aplica com perfeição à viagem de
Schackleton:
- Feito extraordinário;
- Caso inesperado que sobrevém e merece ser relatado;
- Acaso.
E qual foi, afinal, esta viagem? Não foi
coisa pouca, mesmo para os dias atuais, com toda tecnologia que temos
disponível: viajar de navio até a Antártica e, uma vez desembarcados, realizar o
caminho até o Polo Sul. Para Schackleton, na realidade, seria a terceira
tentativa de atingir o objetivo. Em 1901 fez parte da equipe chefiada por
Robert F. Scott, que chegou à marca de 1.198 Km de distância do Polo. Na
segunda tentativa, chefiada pelo próprio Schackleton em 1907, conseguiram
chegar até 156 Km do destino, mas houve escassez de alimentos e tiveram que
abortar a expedição e correr para não morrerem de fome. Nesta terceira
expedição aportariam no mar de Weddell, executariam o caminho terrestre através
de trenós e fariam a saída pelo extremo oposto do continente, usando
mantimentos que seriam espalhados por outra equipe ao longo do itinerário. Entretanto,
como pode ser lido na contracapa do livro, não foi bem assim:
"No
verão de 1914, Sir Ernest Schackleton parte a bordo do Endurance em direção ao
Atlântico Sul. O objetivo de sua expedição era cruzar o continente antártico.
Mas, a apenas um dia do porto de desembarque planejado, o Endurance fica
aprisionado num banco de gelo no mar de Weddell e acaba sendo destruído."
Esperar por um resgate seria
impossível. A chance de que isso acontecesse era zero e tampouco se dispunha de
meios. E o ano era 1914, a Europa estava envolvida com a recém iniciada I Guerra
Mundial, o que significava estarem esquecidos, literalmente, no fim do mundo. A
única alternativa era seguir com os trenós, os três barcos salva-vidas e tudo
que pudessem carregar de mantimentos, através das banquisas e, ao chegar em mar
aberto, navegar por um dos mares mais traiçoeiros de todos os oceanos e tentar
chegar a uma ilha onde houvesse um porto seguro.
E assim iniciou a jornada de quase dois
anos de Schackleton e sua equipe de vinte e sete homens rumo ao imponderável.
Ao longo das 346 páginas, que parecem muito poucas pela riqueza da narrativa,
Alfred Lansing conta como Schackleton conduziu, do início ao fim e sem nenhuma
baixa, a mais espetacular e perigosa de todas as suas expedições.
O carisma e liderança de Schackleton
são indiscutíveis, fato que, em grande parte, explica o resultado final
positivo da expedição. E não se pode, nunca, alegar que ele, em algum momento,
mentiu para o seus comandados. Já no recrutamento da equipe, os possíveis
percalços estavam bem claros, como pode ser observado pela chamada que fez
através de alguns jornais:
"Precisa-se homens para viagem perigosa, pequenos salários, frio intenso, longos meses de completa escuridão, perigo constante, retorno duvidoso, honra e reconhecimento em caso de sucesso."
O mais incrível é que apareceram mais
de cem homens desejosos de participar da aventura.
Selecionei algumas imagens, que não
aparecem no livro, o que é uma pena, para dar uma ideia de tudo que se passou.
E podem ter certeza, o que relatei aqui é muito pouco comparado a tudo que
apresenta o livro. E os feitos mais impressionantes, é claro, nem cheguei a
comentar.
Boa leitura!
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Imagens: