segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Eu também queria ser


Alguém poderia alegar, e não sem um pouco de razão, que minha opinião é um pouco suspeita, já que falarei do livro de um amigo. Mas fazer o quê? Fingir que não o conheço, dizer que não li? Pelo contrário, li e gostei muito do Quero ser Reginaldo Pujol Filho (Não Editora, 2010). Talvez devesse simplesmente dizer: eu também quero ser Reginaldo Pujol Filho. Só que estaria roubando a frase do Marcelino Freire, que "orelhou" o livro. Mas seria uma boa síntese, isso é verdade.
Pois bem, e o que fez o Reginaldo? Escreveu dez contos, cada um homenageando um escritor que ele gosta, ou que o influenciou (acredito que ambos). Claro que, em se tratando do Reginaldo, não é um texto lugar-comum e, óbvio, o humor está presente (digo isso porque, para muitos, para ser um bom texto tem que ser um dramalhão; o Reginaldo é um dos que provam que este conceito é ridículo).
Não tenho dúvida que o leitor, se já tiver lido um texto ou mais dos escritores homenageados, vai saborear muito melhor a leitura. E, se deixou de ler algum, acredito que também vá querer conhecer o original. A lista segue esta ordem: Miguel de Cervantes, Luigi Pirandello, Rubem Fonseca, Luis Fernando Verissimo, Italo Calvino, Amílcar Bettega Barbosa, Machado de Assis, Gonçalo M. Carvalho, Mia Couto e Altair Martins. Em suma, só gente boa. Alguns contos gostei mais do que de outros, mas isso porque sinto o mesmo em relação aos autores; cada um terá os seus preferidos.
Gostaria de falar um pouco de cada um dos contos, mas bom mesmo é ler todos (se eu tentar explicar corro o risco de tirar a graça). Só não vou perder o gostinho de dar uma palhinha. Para isso, escolhi o início do conto Quero ser Machado de Assis:
"Desocupado leitor, a história é a seguinte, quer dizer, não, me perdoe. Não leve a mal o adjetivo desocupado da linha acima, não era exatamente no sentido, digamos, de vagabundo que eu queria falar. Era mais algo como, perceba, você, mas como posso explicar, observe, trata-se de estilo, compreende? Descontrair de uma forma contemporânea com quem está do outro lado, mas longe, longe, deveras longe deste narrador, porventura ofender você. Melhor começarmos assim:
Ocupado leitor - sim, admito, ocupado não chega a elogio, to­davia não ofende -, mas, ocupado leitor, precisamos correr, visto que as delongas acima já atrasam o andar da história e, afinal, é para ler histórias que o amigo tem um livro nas mãos.
Pois acelerarei..."

Além deste, o Reginaldo lançou, em 2007, seu primeiro livro de contos, Azar do personagem, e em 2009 organizou a ótima antologia Desacordo Ortográfico (ambos pela Não Editora)
Serviço:
Título: Quero ser Reginaldo Pujol Filho
Autor: Reginaldo Pujol Filho
Editora: Não Editora
Ano: 2010
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Abraço,
Nelson Safi

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